Prometida

Exposição individual de Ricardo Ramalho


de 6/9 a 12/10/23, vernissage 5/10 - Casa Tamarindo


O exercício de ser artista

“Por que não usar a arte para olhar o mundo, em vez de manter o olhar preso às formas que ela põe em cena?” - Nicolas Bourriaud *

Paira um certo mistério no ar, algo como magia, no fazer artístico. Para desvendar os procedimentos e etapas da criação de uma pintura, o atual trabalho de Ricardo Ramalho se passa em um espaço que começa como ateliê e termina como galeria. Prometida não é uma exposição, mas o processo por entre telas, tintas e conversas no ateliê, o dia a dia do artista a pintar, a montagem e a abertura da exposição.

Prometida é o prólogo de uma exposição de pintura. Porém, não é só sobre o saber fazer (pintar, neste caso), mas sobre o processo criativo, o discurso em montagem, o porquê do trabalho, os caminhos tomados, os resultados, a exibição e a possível venda. Será pintada uma série de telas com a mesma imagem, o deus hindu Ganesha, representado como uma divindade amarela ou vermelha, com uma grande barriga, quatro braços e a cabeça de elefante com uma única presa, montado em um rato. O motivo da pintura pode interessar menos que o processo, mas a repetição da imagem leva a proposta artística à questão da reprodutibilidade, ao limite entre o objeto único e a produção em série industrial. A mão automática que reproduz como máquina. O pensamento kitsch que perpetua uma imagem religiosa consumível. É tudo isso, mas não é apenas sobre pintura.



O artista quer quebrar o encantamento do objeto artístico, destituí-lo de aura, questionar o que o torna uma manifestação única, apresentar sua linguagem poética… São questões que, há muito, perpassam o universo das artes visuais. Nas sessões semanais de pintura, RR revela o trabalho minucioso, rígido e exaustivo de pintar em uma performance que durará algumas semanas. Com as pinturas prontas será possível reocupar o espaço, transformar o ateliê em galeria e montar a exposição Prometida.


O desenrolar da criação dos objetos no dia a dia do ateliê e os preparativos para a exposição, que
estarão visíveis, são as ações centrais da proposta deste projeto. Mas também inclui-se aqui a conversa com a audiência - seja presencialmente seja através de interface digital - quando o ateliê estará aberto em dias específicos. O artista vai apresentar os bastidores da exposição e revelar o seu ofício para quem quiser desfazer a magia da arte pronta para consumo. RR envereda pela estética relacional de Bourriaud, que considera o intercâmbio humano como objeto estético em si, fazendo a obra de arte ser um dispositivo formal para gerar relações entre pessoas. Prometida é uma ação, um encontro, é a performance-pintura que se quer exposição, que termina quando começa.


Ivi Brasil
[jornalista, curador e pesquisador]

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